Sou carente, gosto
de atenção e mimos, daí você pode dizer “e quem não?”, mas
eu sinto uma necessidade enorme de falar. Então falo com muita
gente, quando não perturbo uma ou outra em especial. Mas quando me
lembro criança, me lembro falante, inquisidora, enxerida. Me recordo
de um dia ter tido muita raiva de meus pais por ter que sair da sala
por que o jornal passaria algo de “adultos”. A raiva de ter que
ir assistir filme infantil com a minha prima ao invés de estar com
quem eu queria, se traduziu no seguinte plano: me esconder até que
dessem minha falta e vissem o quanto eu sou importante. Claro que deu
certo, se uma criança de 3 ou 4 anos some por quinze minutos algum
adulto logo se dá conta. Quando me encontraram embaixo da mesinha
sentada como um buda e com raiva do mundo, minha mãe só podia
pensar que eu era uma menina estranha.
Cresci e passei a
escrever, à mão, em papel de carta, em folha com cheiro e na
Olivetti de lá de casa. Os adultos não paravam para me ouvir, as
crianças não entendiam o que eu queria dizer. Nenhum deles entendia
minha cisma com a enciclopédia, nem a estima pelos livros. Me restou
escrever como forma de expressão. Juntar e catar letrinhas é um
suporte bem antigo para os sentimentos. Inventar palavras como
“sentimento” é brincar em uma brincadeira de Rei nú, todos
fingem que sabem do que se trata o que está por trás do arranjo,
quem não vê o traje do Rei, finge que vê.
Eu tenho escrito
coisas diferentes ultimamente. Aventuras em tipos de escrita, pra
fugir da intimista e me colocar em terceira pessoa. Pra deixar os
infinitvos pra academia e brincar de ter voz ativa. Escrever para
tentar convencer, excitar, contar invenções. Tirar de dentro,
tentar esvaziar a mente e assim perturbar menos os adultos com a
minha necessidade de falar. Já não sou nem a criança, nem a
pré-adolescente que acha que é poetisa. Sou mulher que tenta contar
suas angústias juntando cacos e letras. Ando irritada demais com que
eu imagino que pensem de mim pelas minhas atitudes carentes,
provenientes do desejo de conversar. Volto a escrever pra limpar a
mente e virar do avesso os sentimentos. Deixar ir.