7 de ago. de 2014

Falar e escrever



Sou carente, gosto de atenção e mimos, daí você pode dizer “e quem não?”, mas eu sinto uma necessidade enorme de falar. Então falo com muita gente, quando não perturbo uma ou outra em especial. Mas quando me lembro criança, me lembro falante, inquisidora, enxerida. Me recordo de um dia ter tido muita raiva de meus pais por ter que sair da sala por que o jornal passaria algo de “adultos”. A raiva de ter que ir assistir filme infantil com a minha prima ao invés de estar com quem eu queria, se traduziu no seguinte plano: me esconder até que dessem minha falta e vissem o quanto eu sou importante. Claro que deu certo, se uma criança de 3 ou 4 anos some por quinze minutos algum adulto logo se dá conta. Quando me encontraram embaixo da mesinha sentada como um buda e com raiva do mundo, minha mãe só podia pensar que eu era uma menina estranha.

Cresci e passei a escrever, à mão, em papel de carta, em folha com cheiro e na Olivetti de lá de casa. Os adultos não paravam para me ouvir, as crianças não entendiam o que eu queria dizer. Nenhum deles entendia minha cisma com a enciclopédia, nem a estima pelos livros. Me restou escrever como forma de expressão. Juntar e catar letrinhas é um suporte bem antigo para os sentimentos. Inventar palavras como “sentimento” é brincar em uma brincadeira de Rei nú, todos fingem que sabem do que se trata o que está por trás do arranjo, quem não vê o traje do Rei, finge que vê.

Eu tenho escrito coisas diferentes ultimamente. Aventuras em tipos de escrita, pra fugir da intimista e me colocar em terceira pessoa. Pra deixar os infinitvos pra academia e brincar de ter voz ativa. Escrever para tentar convencer, excitar, contar invenções. Tirar de dentro, tentar esvaziar a mente e assim perturbar menos os adultos com a minha necessidade de falar. Já não sou nem a criança, nem a pré-adolescente que acha que é poetisa. Sou mulher que tenta contar suas angústias juntando cacos e letras. Ando irritada demais com que eu imagino que pensem de mim pelas minhas atitudes carentes, provenientes do desejo de conversar. Volto a escrever pra limpar a mente e virar do avesso os sentimentos. Deixar ir.