10 de mar. de 2013

O cesto, a memória e o minimalismo

Tenho um cesto de roupas que tem papéis dentro, bem, normal, muitas pessoas utilizam cestos de roupas para funções diversas... mas precisei do cesto de roupas para colocar as minhas roupas, uma vez que o outro cesto de roupas agora será só dele. 

Dentro do cesto havia um álbum de fotografias cafonérrimo com as fotos da minha formatura*, também estavam lá em uma sacola de papel muito grande, todas as agendas e diários que mantive desde os 11 anos. São muitos anos de agendas. Digo que são meio agendas e meio diários pois até os 15 eu as usava muito como diário, depois disso, elas viram lugares de anotar minha vida de forma prática. Comecei a trabalhar aos 16, então as agendas servem para anotar aquilo que eu não posso esquecer é assim até hoje, ainda uso agenda como recurso analógico da minha memória, lá estão os nomes e dias de aniversário, as contas, os compromissos, as listas de tarefas e de compras, mas estão também as coisas incríveis que acontecem comigo, sabe aquele dia que choveu e uma pessoa muito legal te ofereceu uma carona? Pra mim não vale se não conseguir situar no tempo essa lembrança, então eu anoto na agenda: fulano me deu carona pois choveu. Sou muito apegada a essa memória temporal, a situar os fatos cronologicamente, a não confundir se foi antes ou depois. Então acumulei anos de agendas/diários com todas as coisas boas e ruins escritas em forma de notas para não esquecer quem eu sou.

Mas resolvi não me apegar mais ao passado dessa forma, conheci o minimalismo no meio de 2012, bem no começo da grande crise que vive meu casamento, precisava organizar minha vida, sentia uma necessidade de controlar as coisas por ver meu relacionamento saindo do eixo, descobri no minimalismo uma forma de recomeço. 

Comecei por limpar meu guarda-roupas baseado na regra de um ano de uso e me senti livre! Então foi a vez da biblioteca e dos papéis de contas, os livros fizeram felizes uma associação e os papéis já devem estar picadinhos sendo reciclados. E as listas com meus projetos e a prática da concentração em uma tarefa de cada vez, isso me fez terminar meu mestrado, passar nas provas de doutorado e não cair em depressão por ter uma tendência ao perfeccionismo que me coloca em depressão toda vez que algo "sai do lugar", nessa época eu já estava cuidando dessa depressão, percebendo que não devia ser tão meticulosa com tudo, me perdoando por não acertar em todas as ocasiões. Mas reduzir, ter apenas o necessário é para mim uma forma de ter menos coisas a controlar. 

Aprender a viver o presente é meu maior desafio hoje, ter esse desapego dos planos A, B, C e D... que fazia e que me frustravam ainda é uma complicada relação. Pra contar uma vitória imensa, eu deixei de pagar as contas de casa sozinha e apesar da grande ansiedade que sinto por meu marido não fazer planilha de gastos e controles de despesas, eu não o questiono sobre como ele gerencia. Eu aprendi que somos diferentes e que devo respeitá-lo no seu modo de fazer, se ele se perder ou endividar, ele aprenderá a usar formas de controle de gastos que façam sentido para ele. 

Viver o presente, apesar de ser um momento delicado de "quase-separação", me trouxe uma provação hoje, quando peguei o cesto e tive que decidir onde guardar 15 anos de agendas, resolvi folheá-las e percebi que as notas boas que elas guardam eu lembro sem a ajuda delas, aquelas notas que eu não lembro é porque eu não preciso mesmo lembrar, mas principalmente e mais importante, eu percebi que existem coisas que eu não gosto de lembrar e não me importo mais em situá-las cronologicamente. Então cheguei a conclusão que guardar essas anotações para lembrar das coisas boas é o mesmo que ser obrigada a ler as coisas ruins também. 

Levei anos para perdoar pessoas, deixar mágoas para trás e compreender que o passado nos faz ser o que somos, mas ele não define o que faremos a seguir.  Pensando nisso, qual a justificativa para ter a forma física dessas lembranças estocadas pegando poeira e escondidas em algum canto? Desapeguei. Elas irão embora, amanhã cedinho. Já estão na porta enquanto eu escrevo. 

Estou me sentindo mais leve de me desfazer, de poder lembrar só o que escolher lembrar, de viver meu momento. 

Obrigada aos três principais blogs que me ensinaram esse tipo de bem estar. The Busy Woman and the Stripy cat, Vida organizada e Vida minimalista. Obrigada Rita Domingues, Thais Godinho e Camile Carvalho.

* O álbum de formatura também não me traz boas lembranças por completo, mas sei do esforço das pessoas que me amam para que ele pudesse estar materializado sob meus cuidados, ele é uma representação, então ele fica!