24 de ago. de 2011

Pós-graduando, graduando, medindo, comparando...

À vezes me questiono se é todo mundo ou se sou só eu? Acho que essa questão impulsiona todos os medos dos ansiosos-inseguros-solitários do mundo. Uma classe de pessoas que não se enquadra. Não se adapta mas por escolha (ou uma quase escolha, explico depois...), não acha necessário fazer o que os outros fazem sem saber nem mesmo os motivos que os levaram a fazer.


Essa classe de inaptos à conviver pacificamente com as exigências de um mundo distorcido pelos achismos alheios, sofre a cada segundo que respira e quando prende a respiração pra não falar meia dúzia de palavras grosseiras, fica roxo, de raiva.


Acho que pertenço a essa seleta classe de gente que não se adapta. Não são pessoas melhores, piores, ou mesmo ilustres. São pessoas que não se assossegam e que não se deixam sossegar. Me mandaram ter objetivos na vida, agora que muito à contragosto os tenho, não me deixam trabalhar.


Saí lá da puta-que-pariu do país pra vim pra cá estudar. Cá estou, passando mais uma vez pela humilhação de não ter onde sentar pra estudar. Eu levo muito à sério meu estudo, não encaro as coisas com oba-oba... Diferente dos gênios da humanidade sou uma pesquisadora que escreve com a bunda. Preciso sentar, ler, reler, anotar, conversar, escrever, ler, corrigir, escrever outra versão, comparar. Depois desse processo, digo que está aceitável que outra pessoa leia e não caia na risada.


Só ando precisando de uma mesa, uma cadeira, uma tomada e um pouco de silêncio. O resto eu providêncio, afinal os livros que quero ler, aqui não tem, os debates que quero fazer, aqui não posso. Prometo não conversar com ninguém, só ficar quietinha lendo, remoendo e escrevendo. Só não tô mais com paciência de mendigar um direito que todo estudante deveria ter: um lugar pra estudar.


Mentira, quero mais que um lugar pra estudar, eu encaro isso aqui como profissão, sou estudante, malditos aqueles que dizem: -Só estuda? Eu não sou uma adolescente porra louca que vai à festas, enche a cara, usa a universidade pra paquerar. Eu ESTUDO! Sou uma nerd, chata pra caralho, enfadonha, que fala mais que deveria, intrometida e metida. Perfil clássico do docente do ensino superior brasileiro, uma beleza. Como eu quero fazer exatamente ao contrário do que minha mãe mandou, não aceitarei o emprego de balconista de padaria, secretária de dentista, ou gerente de loja de calçados que ela sempre sonhou pra mim, seguirei carreira acadêmica. Para alcançar a almejada tarefa, terei que cumprir o check list abaixo, aprendendo e desenvolvendo essas habilidades:


  • Engolir diversos sapos (ok, estou me preparando)
  • Sobreviver à artilharia dos departamentos
  • Sobreviver ao “fogo-amigo” (nunca se sabe de onde vem o tiro)
  • Produzir artigos brilhantes embaixo de artilharia pesada
  • Manter o tesão para dar aulas para alunos desinteressados;
  • Preparar um maldito power point decente;
  • Eleger meia dúzia de livros e devorá-los (tornando-me uma medíocre especialista)
  • Defender a extensão universitária desconstruindo a ideia de assistencialismo; (essa vai ser foda)
  • Arranjar verbas pra bancar as viagens;




Esse é um check list provisório, quem sabe eu o retomo no fim do ano e acrescente algo. Estou oficialmente dando o pontapé inicial à minha carreira docente. Sem sala, sem mesa, sem cadeira, mas com boa vontade e um lordose por carregar o notebook pessoal o dia inteiro.